Enquanto a Bahia desponta no cenário nacional como uma potência da economia criativa, dados recentes revelam que o Piemonte Norte do Itapicuru — formado por nove municípios do semiárido — possui um vasto potencial ainda pouco explorado nesse setor.
A combinação entre cultura tradicional, culinária marcante e juventude criativa pode ser a chave para desenvolver um novo ciclo econômico na região.
De acordo com estudo da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), o setor criativo baiano movimentou R$ 6,6 bilhões em 2019, com forte presença da gastronomia e das festas populares.
Essa realidade tem reflexo direto nas cidades como Senhor do Bonfim, Campo Formoso e Jaguarari, onde eventos como o São João e celebrações religiosas geram impacto expressivo, embora sazonal.
Outro ponto de destaque é a gastronomia, que na Bahia responde por mais de 40% do valor gerado pela economia criativa.
No território de identidade, a comida típica das feiras livres, como o beiju, o licor artesanal, o acarajé, a tripa frita e a buchada, carrega saberes ancestrais que podem ser valorizados em roteiros turísticos e empreendimentos sustentáveis.
Apesar dessas riquezas, o estudo mostra que a participação dos municípios da região no volume total do setor ainda é modesta.
Segundo indicadores recentes, o território responde por apenas 4% do valor adicionado da economia criativa em relação ao total do seu Valor Agregado Bruto (VAB).
Esse percentual, embora compatível com a média estadual, não demonstra protagonismo, especialmente para uma região com tantos ativos culturais.
Outro dado revelador está na participação do valor adicionado por habitante, que representa apenas 1,74% do total da Bahia. Isso significa que, mesmo reunindo nove municípios, o Piemonte gera uma fatia bastante reduzida da economia criativa estadual.
Senhor do Bonfim se destaca levemente em comparação às demais cidades, mas os dados revelam uma predominância da informalidade e a falta de políticas específicas para o setor.
Juventude criativa do interior pode liderar novo ciclo econômico no Piemonte
A juventude do Piemonte Norte do Itapicuru está cada vez mais conectada, engajada e criativa.
Jovens vêm utilizando redes sociais, celulares e plataformas digitais para criar músicas autorais, vídeos humorísticos, conteúdos informativos e até produções audiovisuais mais elaboradas — muitas vezes com poucos recursos, mas com grande talento.
Esse movimento espontâneo de criação é um dos maiores ativos da economia criativa contemporânea. A juventude do interior está nas redes, cria conteúdo, compõe, grava vídeos.
Com acesso a formação técnica e incentivo público, eles podem virar protagonistas de uma nova economia.
A ampliação de cursos técnicos em áreas como audiovisual, design, marketing digital, música e produção de eventos, aliados a editais culturais descentralizados e acesso a equipamentos comunitários (como estúdios e laboratórios de mídia), pode transformar esse potencial criativo em oportunidades reais de emprego e renda.
Além disso, muitos jovens migraram para outras cidades ou estados em busca de oportunidades.
Fortalecer a economia criativa local pode contribuir para reduzir esse êxodo, valorizando talentos e mantendo-os em suas comunidades de origem.
A digitalização do mercado criativo — acelerada pela pandemia — abriu espaço para novos modelos de negócio que não exigem centros urbanos para prosperar.
Um influencer de Jaguarari, uma cantora de Pindobaçu ou um editor de vídeos de Andorinha podem alcançar o Brasil e o mundo com seus conteúdos, se tiverem as ferramentas certas ao seu alcance.
Investir nesses jovens é, portanto, investir no futuro cultural e econômico do semiárido baiano.
A ausência de dados específicos por município ainda é um entrave para o planejamento de políticas mais assertivas.
Contudo, a tendência é clara: investir em cultura, inovação e empreendedorismo criativo pode não apenas preservar tradições, mas gerar renda, dignidade e futuro.
Fontes da pesquisa: Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI) – Publicação: Setor Criativo na Bahia tem no entretenimento a sua principal força (Boletim Técnico n. 32, maio de 2022). Fonte dos dados sobre valor adicionado (VA), composição do PIB criativo, participação setorial e emprego formal. Link: www.sei.ba.gov.br. RAIS – Relação Anual de Informações Sociais (Ministério do Trabalho e Emprego) – Base de dados utilizada pela SEI para avaliar o estoque de empregos formais nos setores da economia criativa na Bahia entre 2011 e 2020. PNAD Contínua Trimestral – IBGE (2018–2021) – Dados amostrais da população ocupada, utilizados para medir a inserção do trabalho criativo na Bahia. Planilha VA Economia Criativa por Municípios – SEI/BA – Documento com valores agregados por município da Bahia, utilizado para identificar a participação específica do Piemonte Norte do Itapicuru.