Um recorte de jornal antigo, publicado em 22 de agosto de 1934 pelo extinto Jornal A Noite, trouxe à tona uma parte esquecida da história de Carrapichel, distrito de Senhor do Bonfim.
A matéria narra o momento em que jovens bonfinenses, incluindo Cícero Ferreira e João Biano, recebem um prêmio pelo combate ao cangaceiro Arvoredo, apontado como um dos mais violentos do bando de Lampião.
No diálogo reproduzido pelo jornal, resgatado pelo perfil @carrapichel24hr ,Carrapichel aparece como referência de comércio forte, capaz de rivalizar com Jaguarari:
— Em onde é que tu faz feira, homem? — perguntou Arvoredo.
— Em Carrapichel. — respondeu Cícero Ferreira.
— E por que não faz em Jaguarari?
— Porque a feira lá é cara.
A citação revela a importância econômica e simbólica da feira de Carrapichel naquela época. O relato histórico despertou lembranças em moradores mais antigos, que ainda contam como o distrito fervilhava de gente nas segundas-feiras. Era o ponto de encontro de produtores, comerciantes e famílias da zona rural.
Hoje, a feira de Carrapichel resiste — mas com menos força. O crescimento da sede de Senhor do Bonfim e o surgimento de novos polos comerciais na região esvaziaram boa parte do movimento. Quem ainda caminha pelas ruas da antiga feira encontra poucas barracas e um silêncio interrompido apenas pelos ecos do passado.
Conversar com os feirantes que permanecem no local é ouvir histórias que misturam memória, resistência e saudade. Muitos lembram do tempo em que o comércio era tão intenso que mal dava para andar entre as bancas. Outros falam das apresentações culturais, das compras feitas “fiado” e da importância social daquele espaço.
Carrapichel, embora mais quieto hoje, ainda guarda uma identidade própria. E com ela, histórias que seguem vivas na boca dos mais velhos — e agora, também, nos arquivos históricos que ajudam a lembrar que cada canto tem sua grandeza, mesmo quando o tempo tenta apagá-la.