O Território do Piemonte Norte do Itapicuru, no centro-norte da Bahia, reúne características que o tornam singular dentro da política de Territórios de Identidade: diversidade produtiva, forte presença de comunidades tradicionais e desafios estruturais históricos.
Composto por nove municípios — Andorinha, Antônio Gonçalves, Caldeirão Grande, Campo Formoso, Filadélfia, Jaguarari, Pindobaçu, Ponto Novo e Senhor do Bonfim —, o território se estende por uma região que cruza transições ecológicas importantes entre caatinga, cerrado e fragmentos de mata atlântica.
Geografia e Recursos Naturais
Inserido na bacia do Rio Itapicuru, o território apresenta clima predominantemente semiárido e relevo com chapadas, vales e serras.
A escassez hídrica é uma constante, agravada por irregularidades na distribuição de chuvas e por pressões da mineração e da agricultura.
A vegetação remanescente inclui trechos preservados e áreas críticas de degradação, afetadas por queimadas, desmatamento e ocupações irregulares.
Desafios Hídricos
A presença de poucos mananciais perenes e o uso ineficiente da água para irrigação e abastecimento doméstico agravam a vulnerabilidade hídrica.
O município de Ponto Novo é uma exceção, com um perímetro irrigado que sustenta a fruticultura comercial.
Em outras localidades, como Caldeirão Grande e Filadélfia, a dependência de cisternas e carros-pipa ainda é a realidade de muitas comunidades rurais.
Economia: Entre Mineração e Agricultura
O território é economicamente dinâmico, mas desigual. Campo Formoso e Pindobaçu destacam-se pela produção de esmeraldas, embora a atividade seja marcada por impactos socioambientais.
Já municípios como Jaguarari, Andorinha e Antônio Gonçalves baseiam-se na agricultura familiar e em práticas extrativistas sustentáveis, como a apicultura e o cultivo de uva em microclimas favoráveis.
Em Jaguarari, projetos de vinicultura e hortifruticultura vêm ganhando espaço com apoio de iniciativas públicas e privadas.
Em Andorinha e Antônio Gonçalves, a valorização das práticas tradicionais de fundo de pasto e extrativismo vegetal revela um modelo de produção mais resiliente e ambientalmente adequado.
Comunidades Tradicionais e Identidade Cultural
O Piemonte Norte do Itapicuru abriga expressiva presença de comunidades quilombolas e grupos de fundo de pasto, cuja organização territorial e cultural resiste a décadas de marginalização.
Municípios como Jaguarari e Andorinha se destacam nesse aspecto, com ações de resistência territorial e valorização cultural cada vez mais visíveis.
A identidade territorial é reforçada por festas religiosas, manifestações populares e modos de vida ligados ao semiárido, que ainda convivem com os desafios da precariedade em infraestrutura, saúde e educação em diversas localidades.
Infraestrutura e Desenvolvimento
Embora Senhor do Bonfim exerça um papel central como polo regional de comércio, serviços e saúde, muitos municípios enfrentam gargalos logísticos.
A malha viária precária compromete o escoamento da produção e o acesso a serviços públicos essenciais, sobretudo em áreas rurais.
A carência de saneamento básico e a disposição inadequada de resíduos sólidos afetam diretamente a qualidade ambiental e a saúde pública.
O Território do Piemonte Norte do Itapicuru é um microcosmo de desafios e potencialidades do interior baiano.
Riquezas minerais, culturas ancestrais, diversidade produtiva e conflitos ambientais coexistem em um espaço que exige políticas públicas integradas, com foco na sustentabilidade hídrica, fortalecimento da agricultura familiar e valorização das comunidades tradicionais.
O Zoneamento Ecológico-Econômico da Bahia oferece, nesse contexto, um instrumento crucial para alinhar o desenvolvimento econômico com a preservação ambiental e a justiça territorial.